Romance de verão


(Botero, Na praia)
Eu os conheci em minha última viagem. Eram assim, um tanto estranhos…Diferentes, com certeza!
Mais baixo que o normal, o homem vestia-se sempre com refinado bom gosto. Mas, o que o distinguia dos demais era sua acompanhante: Alta, loira, a pele de uma brancura quase artificial. Os peitos fartos querendo saltar do decote pronunciado, ela o acompanhava onde quer que fosse: à piscina, à discoteca, cinema, restaurante…
A tripulação tratava-os com explícita cortesia. Resultado de gorjetas? Quem sabe… Já os demais passageiros daquele navio que cruzava o Atlântico, mantinham calculada distância.
Aproximei-me deles no convés. Posso sentar-me à sua mesa? As outras estão com todos os acentos tomados! Mas é claro…acomode-se! Será um prazer!
Falamos do tempo, de economia, política. Ele contou-me que estava, após muitos anos, permitindo-se tirar aquelas férias. Era executivo de uma indústria de cosméticos, onde conheceu sua mulher. Suzana, apresentou-me. Eu a cumprimentei discretamente. Ela apenas inclinou, ligeiramente, a cabeça…ou teria sido o vento?
A cerveja gelada, repetida em várias doses, logo deixou-nos íntimos. Íntimos a ponto de trocarmos confidências. Falamos da solidão, da incompreensão humana, de preconceitos. Descobrimos vários pontos em comum: torcíamos pelo mesmo time, gostávamos de filmes de ação, de teatro de comédia, de jogar xadrez… Tínhamos predileção por mulheres loiras e mais caladas, como Suzana.
E, falando em mulheres, viaja sozinho? Perguntou-me. Sim, respondi. Estou me afastando um pouco de minha rotina, para esquecer um amor que não deu certo! Ah…você supera, supera…Eu tirei a sorte grande! Estou com Suzana há dez anos. Jamais brigamos. É a companheira que pedi a Deus! Suzana, sorriso enigmático, aquiesceu em silêncio. Aos poucos fui me acostumando com o casal, embora somente o homem falasse. A tarde desceu sobre o convés. Logo se fez noite. Jantamos juntos? Com prazer, respondi. Dê-me apenas uma meia hora, para um banho. Combinamos encontrar-nos no restaurante.
Desci ao salão de refeições lotado. A orquestra tocava um bolero. Muitos casais ocupavam a pista de dança. Nela, meus novos amigos sobressaíam… Bernard enlaçava apaixonadamente Suzana pela cintura, o rosto afundado em seu colo. Alheios aos insistentes olhares das pessoas, eles entregavam-se completamente ao clima de romance que a música propiciava. Por um breve momento invejei-os. Suzana, num vestido de cetim grená ajustado ao corpo, com sua longa e sedosa cabeleira loira parecia flutuar.
Assim que me viram, acenaram-me indicando a mesa reservada. Sentei-me e por um breve momento permaneci abstraído. Aquela noite quente, o navio balançando lentamente… A melodia me embalava e o coração ansiava por um novo romance. Mal percebi quando se aproximaram. Sabe, confidenciou-me Bernard, Suzana viaja com sua irmã…São inseparáveis, mas, Cristia é muito tímida. Nós lhe falamos de você… Gostaria de conhecê-la? Quem sabe assim a convencemos a sair do camarote! Completamente inebriado pela surpresa e pelo clima da noite, concordei. Aguarde um momento. Vou buscá-la. Chamei o garçom. Pedi-lhe que trouxesse uma garrafa do melhor champanhe. A noite merecia uma celebração. Solicitei mais um lugar à mesa. Mais uma taça. Servi Suzana. À saúde de sua irmã, brindamos! Espero que ela seja linda como você! Ela sorriu-me, cúmplice.
Em alguns minutos Bernard voltava com a mulher que eu iria conhecer: Lindíssima, o vestido verde como seus olhos. O mesmo sorriso sedutor. A mesma pele de porcelana. Os mesmos longos, sedosos, loiros cabelos esvoaçando ao vento. A mesma etiqueta, discreta, presa à cintura: Made in China.
Dançamos a noite inteira, indiferentes aos olhares grudados em nós… Dormi, o rosto enterrado em seu corpo inflável. Dormi, e sonhei que enfim era feliz!
(Ludmila Saharovsky para o Jornal Valeparaibano)

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