Natália Correia


Auto-retrato

Espáduas brancas palpitantes:
asas no exílio dum corpo.
Os braços calhas cintilantes
para o comboio da alma.
E os olhos emigrantes
no navio da pálpebra
encalhado em renúncia ou cobardia.
Por vezes fêmea. Por vezes monja.
Conforme a noite. Conforme o dia.
Molusco. Esponja
embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.

Natália Correia

Natália Correia (1923 – 1993) Foi uma brilhante e combativa intelectual portuguesa cuja obra contemplou os gêneros poesia, romance, teatro e ensaios. Açoriana, esteve sempre à frente na defesa dos direitos humanos e dos direitos das mulheres. É uma de minhas escritoras preferidas. Há vários poemas seus publicados na Net.

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