Exercício para treinar ausências

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Exercício para treinar ausências

Adentrar o esquecimento
e caminhar por suas ruas nuas
Sem tempo nem roteiros.
Adentrar o esquecimento
e, sem lágrimas, celebrar
o vácuo de memórias.
As pedras sobre os olhos
O silêncio sobre os lábios.
Adentrar o esquecimento
e, no limbo, anelar um verbo
virgem de sentido e ver cada coisa
renascer com novo nome e espírito
E, novamente, das trevas ver surgir a luz!
(Ludmila)

    

    Os Sentidos

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    O olhar é o primeiro que chega.
    É o primeiro que toca as paredes caiadas da memória.
    É o primeiro que se apercebe do lugar. Olhar de dentro.
    Depois, o olfato. Ele distingue os aromas já extintos: o cheiro da poeira que se acumulou nas frestas, nas cortinas esvoaçantes de filó, o sal dos oceanos entranhado nelas.
    Depois o tato. Palavras atingem a pele, os poros, rompem a carcaça da carne, penetram nas dobras do tempo e, com olhos felinos, me espreitam. Que aves de rapina comerão os restos de meu texto?
    Depois o paladar. Escrevo nesta vastidão de águas e de areia que saboreio. Palavras rompem o limo em minha boca e recobrem de saliva as letras que lhes dão vida. Apartadas de mim, cansadas de perambular pelos labirintos da mente, elas escapam e vão se alojar em novas histórias. Antes, eu as beijo na boca e então, deixo que partam. (Ludmila)

      

      Caleidoscópio

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      Busco na vida, a magia. A delicadeza em meio à aridez do cotidiano, ela que espanta a rotina, que revoga a mesmice, que dissolve o tédio, que permite inesperadas descobertas: Novos sonhos, novas sinapses, trocas, encantamento. O viver é um poema contínuo que se realiza em mim a cada instante, assim, vou ocupando as moiras que tecem meu destino, com novos pontos, inusitados nós, cores e formas, alongando os fios da vida, de forma tal, que me permitam descobrir outros roteiros. Envio-lhes intermináveis novelos de linhas para que me prendam a abstratas tessituras. Preciso de horizontes instigantes que me remetam à dunas que se movem, grão a grão e possibilitem que o meu vir a ser seja repleto de ação criativa, me reinventando a cada nó. Horizontes estanques me desarmam.
      Seria um jogo? Não! Penso que viver é como inserir-se num caleidoscópio. As possibilidades estão todas ali, naquele tubo onde se espelha a vida. Cabe a mim girá-lo, formando combinações diversas, agregando cores, luzes, frágeis composições que podem reagrupar-se a partir de um sopro, de um leve movimento de dedos e formar novos desenhos. Novas possibilidades de existir.
      Faço de meu mundo este caleidoscópio. Muitos acham os desenhos embaralhados e se perdem nas combinações. Eu não! Sei exatamente a minha cor e forma, e descobrir o novo encaixe é instigante, porque é sempre outro desenho que se forma. Buscá-lo, em todas as suas variantes possíveis, para mim, é entender o sentido da Vida e vive-lo plenamente, sem temer o breve pulsar da felicidade.
      Ludmila