No meio do caminho tinha uma pedra…


Amo pedras. Qualquer uma. E as coleciono desde sempre. A cada viagem que faço, minha coleção aumenta mais um pouco. Uma loucura trazer pedras na bagagem, certamente todos dirão…. mas, para mim não existe souvenir melhor do que esse: Cada uma com sua origem, sua história, que em algum momento entrelaçou-se à minha. Olho para elas e relembro os lugares por onde andei, as pessoas que conheci, as emoções que senti. Em casa, espalho-as em vasos, exponho-as em arranjos, uso-as junto ao corpo: Harmonizam os chacras, dizem os estudiosos. E eu acredito. Gravadas, as runas predizem a sorte desde tempos remotos. Dispostas em círculos, nos labirintos, pedras polidas zelam pelo bem estar de almas antiqüíssimas. Usadas como talismãs, nos protegem de maus olhados. Lapidadas, preciosas, transmutam-se em jóias cobiçadas. Inspiram arquitetos, magos, escultores, engenheiros, místicos, poetas e gente doida, feito eu! Algumas, curam ao toque. Outras compõem infusões mágicas pois recebem, refratam, canalizam e projetam a luz. Recentemente, quando estive em Stonehenge, não pude deixar de maravilhar-me com aqueles dolmens colossais, colocados aos pares, testemunhas milenares de uma época em que homens primitivos construíam calendários solares para celebrar solstícios, ou, quem sabe, sinalizar mágicos portais que re-uniam mundos. Como as transportaram e plantaram no solo, intriga até hoje a maioria dos historiadores. O que posso lhes contar é que a energia que emana desses lugares é ímpar. Sente-se no ar e, as pessoas aproximam-se delas com reverência, abismadas, emocionadas, tangidas por aquele campo de energia.
Na Rússia conheci uma velhinha que, segurando entre as mãos minha pulseira de jade, relatou-me fatos que eu havia vivenciado há muito, muito tempo.Como? Elas “conversaram” pelo toque! Aliás, uma das lições mais instigantes que aprendi no decorrer de minha vida foi esta: Existem maneiras diferentes de se comunicar com tudo o que nos cerca: Animado ou, aparentemente, inanimado. Acho que todos possuímos os sentidos (visão, audição, olfato, paladar e tato) duplicados em nós. Um físico, corpóreo, material e outro…como direi…e outro interno, de alma. É isso: Sentido de alma. Só assim posso explicar, inicialmente para mim mesma, e, depois para os outros, esse processo simbiótico que sofro em determinados lugares, com melodias, cheiros, objetos específicos e até com idéias. Quando vejo uma planta seca, mal cuidada…eu vivencio no meu de dentro sua sede, seu abandono. Quando afago a cabeça de meu cão…ele conversa comigo pelo olhar, e eu recebo e compartilho a energia dessa amizade. Quando seguro minhas pedras, volto aos lugares por onde andei e de alguma forma, transporto-me ao passado e o revivo. A alma, em nós, é um lugar onde a memória (triste ou feliz) é ativada por estes sentidos “duplicados”e o que estava adormecido, volta a despertar. Ouve-se uma música, utilizando o sentido físico e, de repente, o outro é ativado. Então, como por milagre, lá estamos: naquela praia de antigamente… naquela casa de antigamente, cercados por pessoas que amamos e que partiram… revivendo a emoção original. Fechamos os olhos físicos e prosseguimos vendo… sentindo o toque, percebendo o perfume, o timbre da voz….
No Arquipélago de Solovky, no Mar Branco, de onde regressei recentemente, existe um labirinto de pedras construído pelos povos finlandeses. Ele é do período paleolítico e, por um desses milagres inexplicáveis, conservou-se intocado até os dias de hoje .A experiência que lá vivenciei, irei relatar-lhes em outro momento, então, por favor…me aguardem! (Ludmila Saharovsky)

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