Voragem


Escrevo. Estamos novamente em setembro. A última lua cheia
reflete-se, ainda, em peixes e inunda meu jardim de
claridade. A lua está prenhe no céu e minha alma inquieta.
É como se uma vertigem a tomasse. Vertigem…vertigem…Tontura, desmaio, desvario.
Vertigem, repito, e o som desta palavra reverbera em minha boca e
me atira num infindável labirinto. A casa dorme. Dormem
a rua e a cidade. Só eu, insone, giro em torno da lua, de mim mesma, no vazio. Vazio? A noite acalenta-me e me instiga com seus mistérios…tantos! Ah! Como seria bom se um simples uivo resolvesse as questões complexas da existência! Um longo uivo, de uma loba ancestral admirando a lua. Fatigada das rotinas do dia, olho para este céu, mar de sombras pontuado de estrelas e busco nele tênues sinais: a elíptica na qual se inserem os planetas, naves, nuvens, montes sagrados onde habitam, desde sempre, deuses e deusas de todas as mitologias, cercados pelo fabuloso séquito de seres zodiacais. Aprumo a vista. Quero enxergar além. Além das Moiras que vão tecendo nosso destino. Além de Castor e Pólux. Além do Minotauro, de Urânia, de Hércules e Hidra.
Tantas constelações e eu, tão pequenina. Tanto movimento, e eu tão quieta. Hoje, não se discute mais a sincronicidade que temos com as estrelas. Os profetas e os poetas já o sabiam, antes que a ciência, incrédula, percebesse o Tao da Física. Mas, eu busco no céu, na verdade, a mais bela constelação. Aquela que traz Órion ao lado de seus cães e das Tres Marias. Busco e não a encontro. E, aflita, perscruto os céus. Como explicar-lhes, que esta noite eu queria tanto, ser apenas uma estrela do cinturão deste Divino Caçador. Ser um sinal de luz, sem interesse próprio, sem medo nem vaidades, na imensidão deste mar de estrelas, onde só reina, grandioso, o vento?
Pois isso era tudo o que eu queria!
(Ludmila Saharovsky)

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