Ritos de passagem

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É inexplicável a atração que eu sinto por esses lugares onde repousam os mortos.
Talvez, por ter crescido próximo a um deles, no Campo de Refugiados, onde nasci e tantas vezes brinquei entre túmulos.
Talvez, pelos mistérios insondáveis que a morte nos apresenta, ou, simplesmente, porque essa arquitetura tão antiga me apazígua.
Não gosto de todos os cemitérios, apenas dos seculares, com as lápides já carcomidas pelo tempo, com nomes de tantos personagens que por aqui viveram seus dramas.
Sempre que viajo, eu os encontro e, na maioria das vezes, passo por ali muitas horas, lendo as inscrições, vendo as fotos nas lápides, as esculturas, tirando fotografias.
Assim foi na Inglaterra (Southampton, Londres) na Rússia ( Devitchiy Monastir, Solovki) na França, na Argentina, no Brasil.
Aproveito esse mês de novembro, que se inicia com a comemoração aos nossos mortos, para contar-lhes algumas curiosidades sobre os enterros, em matérias que pesquisei para meu próximo livro: Jacareí, tempo e memória.
Aos que acharem esse assunto mórbido, peço que me perdoem.
Aos que, como eu, gostam de Ritos de Passagem, que me acompanhem! (Lud)

Cemitério de Highgate (14)

Cemitério de Highgate (5)

Cemitério de Highgate (2)

A morte é o gênio inspirador, a musa da filosofia. Sem ela os filósofos talvez nem existissem.
Desde os primórdios da civilização, a morte é considerada um aspecto que fascina e, ao mesmo tempo, aterroriza a humanidade. A morte e os supostos eventos que a sucedem são, historicamente, fonte de inspiração para doutrinas filosóficas e religiosas, bem como uma inesgotável fonte de temores, angústias e ansiedades para os seres humanos.
Os povos do Egito antigo e da Mesopotâmia tinham por costume enterrar os corpos dos mortos da maneira mais escrupulosa e ritualística possíveis, sendo o cadáver cuidadosamente acompanhado de todas as marcas da sua identidade. Situados junto às cidades, seus cemitérios marcavam uma espécie de margem entre os limites do mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
Já os povos gregos, romanos, hindus, celtas e algumas tribos indígenas, cremavam seus mortos.
A familiaridade entre os vivos e os mortos foi uma característica desenvolvida pela doutrina cristã. O culto aos mártires, muito forte a partir do sec. VI, fez com que se acreditasse que, se os corpos fossem sepultados em lugares santos, a vida eterna e a ressurreição da alma estariam garantidas.
No Brasil, conforme as Constituições Sinodais do Bispado de Algarves, de 1673, era obrigado o enterro de pessoas em solo sagrado, respeitando a idade, o sexo e a condição social do falecido. Por isso os enterros eram feitos na Igreja (Constituições Sinodais do Bispado de Algarves, 1673, publicadas em Évora em 1674)
Tal procedimento se arrastou por séculos, inclusive durante as epidemias. Com as transformações científicas ocorridas no sec XIX, as leis precisaram se adequar aos novos tempos e descobertas. Em 1804, na França, passou a ser obrigatório o enterro em cemitérios. Em Portugal a obrigatoriedade passou a vigorar em 1835, mas, ainda em 1882 havia cidades do país onde não existia cemitério algum ( In Dicionário da Historia de Portugal de Joel Serrão)
No Brasil, em 1855 a Igreja ainda travava uma luta com as Câmaras Municipais para ser dela o mister administrativo dos chamados Campos Santos.
KENSAL GREEN (21)

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KENSAL GREEN (11)

As fotografias dos campos santos aqui estampadas são dos cemitérios de Southampton ( onde eu me localizo na primeira foto) do cemitério de Highgate, em Londres, e do Cemitério de Kensal Green, também em Londres, UK.

Aldeia do ImigranteEste é o cemitério alemão da Aldeia do Imigrante, em São Lourenço do Sul, RS.
Anton TchekhovTumulo de Anton Tchekhov no cemitério Novodevichy, em Moscou

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