Receita de escrever

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Tão bom seria se houvesse receita de escrever! E não é que tem?
Vou lhes revelar a minha!
*Ter sempre à mão um lápis e um papel, porque o fermento da escrita cresce e transborda da gente a qualquer hora e em qualquer lugar, então, prevenir é sempre o melhor caminho!
*Ter a certeza absoluta de que há muitos enredos dentro da gente. Escrever é apenas abrir a porta e permitir que eles saiam: livres, selvagens, indomados. Postos para fora, aí sim, caberá a nós colocá-los em ordem sobre os trilhos da história.
*Um escritor precisa desenvolver também outros ofícios, que lhe permitirão trafegar com maior segurança pelo mundo das idéias. Por exemplo: Tem que saber ouvir o mar. O mar fala o “oceanez”, um dialeto dominado pelas gaivotas e pelas sereias. Não sei se os tubarões o compreendem, mas, os golfinhos, com certeza!
*Conversar com as violetas também ajuda. Sabiam que as violetas, assim como todas as flores miúdas são poliglotas? Meu avô conversava com elas em russo. Agnes, minha amiga de infância, em francês. Eu converso mesmo no bom português, e elas respondem com buquês cada vez mais coloridos. Aprendi com as violetas, que o cravo nunca brigou com a rosa! Isso é intriga dos humanos, e dá uma bela crônica!
*Um bom escritor precisa também, e sempre, olhar para o céu diurno e ler as histórias que as nuvens sabem contar como ninguém! Pegue a criança mais próxima a você ( pode ser, inclusive, a sua criança interna) deite-se num gramado próximo, ou na praia, ou no quintal mesmo, e deixe a nuvem guia-lo por castelos, florestas, celestes labirintos…A nuvem entra na cabeça da gente e nos deixa prontinhos para criar!
*Ah! Numa receita de bem escrever, não pode faltar nunca a magia. Magia de capturar o cheiro da terra molhada após a chuva de verão, do salto do grilo trapezista, da organização das formigas, em fila indiana, levando gravetos para construir suas muralhas subterrâneas, do raio de sol anunciando o alvorecer (ou o anoitecer, tanto faz, desde que a gente o capture com o olhar) Nossa! Quantas histórias podem ser escritas observando o céu tinto de rosa e lilás!
*E, um bom escritor precisará, urgentemente, abrir seu coração e alma para a poesia. Poemas usam metáforas, usam uma linguagem que modifica as palavras e nos permitem transgredir. Citando Rubem Alves (aqui faço uma observação: ter a companhia de escritores que nos inspiram, é um ingrediente importantíssimo nesse processo, pois são eles que, generosamente, deixam-nos entrar em suas criações e ter acesso à sua visão de mundo, o que nos fornece subsídios para criar a nossa própria receita) mas, citando Rubem Alves: “meu rio de pensamentos foi surpreendido por um peixe dourado que repentinamente saltou de dentro de suas águas e falou um poema – os poemas moram sempre no fundo das águas…” eu complementarei que, não só os poemas mas todos os escritos “moram sempre no fundo das água”!. Das águas de nosso oceano interno, tão rico, único, diverso e inexplorado.
*Então, terminando essa receita eu direi a vocês: Um bom escritor precisa, com a máxima urgência, aprender a mergulhar!
(Ludmila Saharovsky)

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