Reminiscências

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Vicentina 2

Hoje quero celebrar a leveza dos ipês e suas flores bailarinas. Elas dançam para o sol desta manhã, que caminha entre linhas, agulhas, conversas e bordados. Quero bordar a alma em festa, o sorriso que não se apaga, a sombra que nos alcança, a aragem repleta do tagarelar dos pombos e das angolas que ciscam linhas caídas como se fossem grãos em meio à grama do jardim. E a lenta alegria que se apossa de nossos dedos matizando panos e confidências. Quero bordar as flores e as abelhas, o ruido da mata que nos cerca, o azul que se espelha em nossos olhos e nos torna também, partes de um bordado no cenário desde Parque onde, menina ainda, senti pela primeira vez um medo visceral de que a tuberculose levasse para sempre o meu avô. Hoje, ele me espia entre os ciprestes, me acaricia na brisa que sopra leve nessa manhã e me inspira a fazer da arte o meu ofício, e também a senha para me equilibrar neste mundo, matizando sonhos e esperanças. (Ludmila no Parque Vicentina Aranha, antigo sanatório para tratamento de tuberculosos em São José dos Campos)

     

    Bordar, antes arte do que tarde!

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    Eis que a antiga mania de bordar volta à cena. Essa técnica artesanal, tão em voga entre nossas avós e as moçoilas do século retrasado, que passavam as tardes bordando seu enxoval, e que um dia foi apenas decorativa, hoje está sendo uma das formas artísticas de expressar o feminismo, e, acreditem, uma forma bastante criativa e prazerosa.
    O novo bordado, que está sendo chamado de bordado livre, bordado contemporâneo, ou, ainda bordado riot (através do qual as mulheres discutem todos os problemas de gênero utilizando agulhas e linhas) é uma nova forma de reunião, onde podemos expressar a criatividade, trocar idéias, sair da rotina do dia a dia e nos permitir um encontro para exercitar um convívio feminino através da arte. Mesmo repaginado, o novo bordado é uma maneira encontrada de manter a tradição desse conhecimento que passou de mãe pra filha. Hoje ele passa de mulher para mulher, durante as horas em que dura o encontro. Basta você ter à mão um pedaço de tecido, agulha, linhas e vontade de se expressar. O desenho fica à critério e gosto de cada uma.
    Em São José dos Campos, recentemente formou-se um grupo de bordadeiras, por iniciativa de Rose Veroneze Becker, do qual participo, que se reúne uma vez por mês para bordar em Praças Públicas. O local escolhido foi o delicioso quiosque do Parque Vicentina Aranha, e as idéias começaram a surgir. Inicialmente bordamos, todas, os ipês, que são as árvores mais queridas aqui do Vale do Paraíba, junto com as quaresmeiras. A ideia é fazermos uma exposição para divulgarmos essa arte que, dia a dia conquista mais adeptas de todas as idades. O projeto seguinte será o de bordarmos os janelões da cidade, para montarmos um grande painel que daremos de presente a SJCampos nas comemorações de seus 350 anos de existência, em 2017. Além desses projetos, temos, cada uma, nossas próprias composições. Há mulheres que bordam poemas, receitas, desenhos onde retratam o cotidiano familiar, toalhas, paisagens, roupas, bolsas. Eu, que não pegava em agulha e linha desde as minhas aulas de trabalhos manuais na época do antigo ginásio, resolvi bordar e ilustrar meus textos mais curtos, e estou adorando o resultado… (Ludmila em Coisas de Mulher)

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    meu bordado

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