Quisera escrever-te um soneto

poema liquefeito
Quisera escrever-te um soneto
mas me faltam rimas.
Vestida de palavras
penetro no silêncio
que nas estrofes reina
e, em meio às linhas
surge teu nome
liquefeito.
Ele abre-se em mim
flor de algodão e arpejos
e o poema nasce, rutilante.
Ele escorre feito mel e me alimenta.
Só assim consigo concebê-lo:
Em transe!

(Ludmila)

    

    Ternura antiga

    corpo mulher

    Ternura antiga

    Eu te convido à minha casa. Entra!
    Pousa teu olhar sobre as videiras.
    Eu as plantei para saciar-te a sede.
    E o pão também é teu
    São teus o vinho e o lume.
    Para consagrar-te nao construi altares
    Só te falei numa linguagem pura
    E a essencia do amor selou o entendimento
    E teu corpo estremeceu dessa ternura.
    (Ludmila)

       

      Pedra da Memória

      pedra
      “Acordar não é de dentro.
      Acordar é ter saída.”
      (João Cabral de Melo Neto)

      Tudo dorme. Em mim tudo dorme: veias, nervos, poros, linfa.
      A noite encantou meus olhos quando a primeira estrela fixou-se nas retinas.
      A noite apossou-se de meu corpo e em ondas inundou-me de silêncio. Este, criador, onde tudo germina.
      E o tempo regressou da Eternidade e trouxe consigo a pedra da memória que se fechou, impenetrável, sobre o meu plexo.
      Alguém decifrará minhas cantigas, minhas palavras de amor e de alegria? Meus sonhos, fantasias, meus delírios?
      Caminho na noite com a pedra da memória imersa em meus ossos. Eu, seu fóssil. Eu: a pedra, a memória e a rota. Eu: o silêncio, a noite e o norte.
      Tudo que é vivo dorme em mim. Tudo dorme.
      “Acordar é ter saída?”
      (Ludmila)

        

        Mar de dentro

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        Eu era o mar por onde navegavas: cintilação, estrela, nuvem, alga, quimera, feixe de luz, barco de espuma, bruma.
        Teu corpo envolto por um sopro azul flutuava no itinerário lento das marés. E um manto de escamas o recobria.
        E havia dunas e aves que sonhavam ultrapassar a inatingível linha do horizonte.
        E havia o vento que varria as nuvens, que encrespava as ondas, que levantava a areia, que me dilacerava as entranhas.
        Em ti dançava o sal das águas e em mim o medo cego dos naufrágios. (Ludmila)

          

          Há dias em que escrever não basta.

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          Há dias em que escrever não basta.
          É quando uma estaca crava-se no peito e emudecem as palavras.
          A mão pende, inativa. Reflui a canção na boca. A tristeza entra pelo papel, áspera, profunda e o exílio me toma em seus braços.
          Fujo de mim. Mas quem foi que cortou o cordão umbilical que me ligava aos sonhos? (Ludmila com ilustração da Internet)

            

            Indizível nome

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            Doce…que seja doce o poema, mas, o coração estremece ante o arbítrio do barro misterioso no qual germinam as sementes das palavras. E é entre soluços que eu o concebo. Doto-o de guelras para que respire e de mandíbulas para que abocanhe as letras. E lhe ordeno: Faça-se poema! E ele se faz numa palpitação que delira ao ver-me. Eu: múltipla, ardente, arrebatada, apaixonada pela minha criação. Então, o poema me transcende e me chama pelo indizível nome. (Ludmila)

              

              Setembro avança

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              Setembro abre sua cauda de flores e aromas e se deita no colo dos dias. E eu, sonhando já com frutos e sementes deixo que ecoe, pleno em mim, seu nome: Primavera.
              Os jasmins desabrocham perfumando corpos, e os manacás, e as tímidas violetas. A alegria chega pelo ar e coroa campos e montanhas.
              O Vale se enche de um amor antigo, enquanto o céu pasta no rio com seu rebanho de nuvens. A natureza alarga seus braços e nos envolve cheia de promessas.Quem dera fôssemos o mel da vida! (Ludmila)

                

                Versos de sal e cinzas.

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                Nem sempre me inspiram as flores e as estrelas que invadem minhas retinas e as povoam de luz e de esperança.
                Também a loucura me inspira. Essa que incendeia a rotina dos dias e esgarça a certeza das coisas.
                Nascem meus versos, então, cheios de sal e cinzas, como agora.
                Digo: Vem! Senta-te à mesa e devoremos o desencanto das horas mortas.
                Vem! Desfruta dessa tristeza que me transforma em pedra, cratera, abismo.
                Vem! Te junta a mim e vamos sangrar as veias da poesia, até que os peixes cintilem na água, como as estrelas no céu. (Ludmila)
                Arte do fotógrafo russo Stanislav Aristov

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