Nelida Piñon

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Nelida Piñon é uma das escritoras de quem mais gosto. Gosto tanto que batizei meu livro de crônicas com o título: “Eu não sou Nelida Piñon”.
Nélida é carioca de Vila Isabel, Rio de Janeiro, RJ. Nasceu em 3 de maio de 1937. Jornalista, romancista, contista, professora. Foi eleita para Academia Brasileira de Letras em 27 de julho de 1989 para a Cadeira n.30, na sucessão de Aurélio Buarque de Holanda.Seus livros foram para países como Alemanha, Itália, Espanha, União Soviética, Estados Unidos, Cuba e Nicarágua.Seus contos encontram-se publicados em centenas de revistas e fazem parte de antologias brasileiras e estrangeiras. Livros publicados:
Guia-mapa de Gabriel Arcanjo, romance (1961)
Madeira feita de cruz, romance (1963)
Tempo das frutas, contos (1966)
Fundador, romance (1969)
A casa da paixão, romance (1977)
Sala de armas, contos (1973)
Tebas do meu coração, romance (1974)
A força do destino, romance (1977)
O calor das coisas, contos (1980)
A república dos sonhos, romance (1984)
A doce canção de Caetana, romance (1987)
O pão de cada dia: fragmentos, contos (1994)
A roda do vento, romance infanto-juvenil (1996)
Até amanhã, outra vez, romance (1999)
Cortejo do Divino e outros contos escolhidos, contos (2001)
O presumível coração da América, discursos (2002)
Vozes do deserto, romance (2004)
Coração andarilho (2009)

E agora este seu Livro das horas, leitura imperdível!Viva!
(Ludmila)

    

    Tempo Submerso

    Pessoas queridas!
    Lanço meu livro Tempo Submerso, a princípio, no Vale do Paraíba, agora nos dias 12 de maio em Jacareí, e em 17 de maio em São José dos Campos. Publico para vocês, a capa e o convite. Ficarei muito feliz em recebê-los e abraçá-los! (Ludmila)

    Capa Ludmila_Tempo Submerso

    Parte I

    Solovietskie Ostrova

    Estou absorta na pequena embarcação balançando sobre as ondas do Mar Branco.
    O vento intermitente e úmido me fustiga. É verão, mas a temperatura de oito graus me obriga a enterrar a cabeça no gorro de lã grossa e a proteger o rosto com o capuz do sobretudo enquanto observo o ocaso naquela madrugada clara, sob o Círculo Polar Ártico. Uma luz difusa ilumina a noite e a transforma num cenário raro. Mal o sol se põe e já se levanta. Assim, dia e noite não se delimitam, ao contrário, alternam-se, sem o contraste de luz e trevas a que estou acostumada. Este espetáculo me fascina: Noites Brancas.
    Percebo que alguém me observa. Viro e vejo, envolta pela neblina, uma mulher que aparenta ter a minha idade. Ela também está só naquele tombadilho. “Vem com os romeiros?”, pergunta. “Não. Não sou peregrina. Venho à procura de meus mortos”, respondo. Ela balança a cabeça num sinal de que entende a razão de eu estar ali. “Mas você não parece russa!”. Sorrio. “E você, vem a passeio?” “Também não. Trago a minha mãe. Ela busca a sepultura de seu pai. Parece que ele foi executado na ilha.” Fitamo-nos, depois, o mar. Assim ficamos em silêncio por algum tempo até ela apontar para uma luz que lentamente se materializava no horizonte: Solovki.
    Meu corpo estremece e a emoção me paralisa em meio à neblina que tão pouco revela. O pequeno espaço é tomado pelos viajantes. Todos querem ter a primeira visão reveladora do arquipélago. Mais um pouco e as cúpulas arredondadas e brancas do Monastério Ortodoxo despontam delineando aquele espaço santo, onde sob o domínio dos Bolcheviques, em 1920, instalou-se o primeiro e o mais temido Gulag soviético. Comoção. Algumas mulheres, com lenços coloridos na cabeça, fazem o sinal da cruz. Outras apertam as mãos sobre o peito. Os homens fumam. Pigarreiam. Tiram fotos. O barco balança muito em meio às ondas vigorosas. Há passageiros que passam mal. O capitão abre caminho e joga as grossas cordas para os marujos que já o aguardam no cais. O alvoroço se instala. Cada um se prepara para deixar a embarcação. Atracamos. Olho o relógio. São três horas da manhã. No mastro, o ícone de São Nicolau sobressai em cores fortes. (Ludmila Saharovsky)


      

      Esses livros dentro da gente

      Ler é mágico!
      Eu não saberia o que é viver se a leitura não me alimentasse:
      Certamente seria uma pessoa muito mais pobre de espírito e mente.
      Livros são mais importantes para mim do que viagens, roupas, sapatos, enfeites…Eles só empatam com encontros com amigos que me fazem bem à alma. Esses, igualmente, me alimentam!
      Pergunto-me, que mulher eu seria, se minha criança interna não tivesse viajado pelo mundo de Alice? Pelos poemas infantis de Pushkin? Pelo maravilhoso universo de Monteiro Lobato? ( Foi o primeiro autor que li em português: As Reinações de Narizinho, emprestado por uma coleguinha que sentava-se comigo na mesma carteira de meu grupo escolar…)
      Que seria de mim sem Júlio Verne?
      Sem Charles Perrault, Irmãos Grimm, Andersen?
      Como seria nossa infância, sem esses livros dentro da gente?
      E…da mesma forma…como seria nossa maturidade sem a literatura?
      Como escreveu Rubem Alves, em seu “Perguntaram-me se acredito em Deus” (Editora Planeta)
      “Escrever e ler são rituais mágicos. Num primeiro momento, aquele que escreve transforma a sua carne e o seu sangue em palavras. No momento seguinte, aquele que lê transforma as palavras lidas na sua própria carne e no seu próprio sangue…O sangue do escritor então irá circular no corpo daquele que o leu”…É a mais perfeita comunhão!
      Mas, toda essa divagação foi para comentar com vocês, o mundo mágico no qual estou mergulhada: O de George R.R. Martin e sua Crônicas de Gelo e Fogo.
      Quando li os seis livros de Duna, de Frank Herbert, pensei que nunca mais me apaixonaria tanto por obra de ficção, quanto aquela.
      Então vieram: O Senhor dos Anéis, de J.R.R. Tolkien
      depois os sete livros de Crônicas de Nárnia de C.S.Lewis
      em seguida a triologia de Bússola de Ouro, do escritor Philip Pullman.
      e…porque não, a deliciosa série de Harry Potter, as aventuras fantásticas do bruxinho, de J. K. Rowling.
      Cada um, à sua maneira peculiar, me encantaram. (Isto, comentando apenas os livros de ficção).
      E agora…Essas crônicas de George R.R.Martin.
      Sei que está passando o seriado na HBO, mas nada, nada no mundo substitui a caracterização de nossos próprios personagens, dentro de nós.
      Diariamente eu me reservo algumas horas para viajar com Sansa, Eddard, Aria, Tyrion, Daenerys,os homens de negro, os lobos gigantes, pelos Sete Reinos, pela Grande Muralha, torcendo, sofrendo, rindo e chorando com eles. E que delícia de aventura!
      Abaixo, algumas ilustrações da edição em inglês:

        

        O anjo e o resto de nós

        O anjo e o resto de nós, de Letícia Wierzchowski, é um romance que você lê de um fôlego só.
        Os personagens, criaturas tão absurdas quanto é a própria vida, saltam das páginas com suas asas, seus apetites incomuns, seus perfumes embriagadores e nos perpassam a alma de loucura e magia. Eu adoro literatura fantástica, e Letícia, com a saga da família Flores, insere-se como estrela brilhante nessa constelação.
        Eu recomendo e recomendo! Boa leitura! (Ludmila)

          

          O Medo de Al Berto (recorte)


          (manuscrito retirado do site
          biblioteca imaginária.wordpress.com)

          “tua presença só é visível nas fotografias dos barcos
          as quilhas são a tua memória longínqua das Índias
          vai
          com os pássaros de bicos exuberantes e sonha
          e estende o corpo cansado nos intervalos da erva fresca
          onde alguém costurou pedras brancas na orla das grandes rotas
          a cidade espera-te com o cais de madeira
          junto ao rio abre as mãos toca nos corpos com os lábios
          agarra-os dentro de ti
          até que da terra lodosa brotem especiarias
          porque só longe daqui acharás o que falta da tua identidade
          só longe daqui conhecerás o sangue e talvez a felicidade
          inundando um breve instante a noite de nossos desastres
          só longe daqui
          terás a consciência da quotidiana morte de Deus.”

          (Al Berto, do livro O Medo)

            

            Esses livros dentro da gente



            (imagens Internet)

            Al Berto, no décimo quarto ano da morte do poeta

            Al Berto, pseudônimo de Alberto Raposo Pidwell Tavares, um dos nomes mais significativos da literatura portuguesa contemporânea, nasceu em Coimbra em 1948, passou a adolescência em Sines e exilou-se em Bruxelas até Novembro de 1974. Morreu em Lisboa, em 13 de junho de 1997, há exatos quatorze anos. O primeiro contato que tive com sua obra, foi através do livro À Procura do Vento num Jardim d’Agosto, em 2004, quando morei algum tempo com meu filho na Inglaterra, e “esbarrei” nesse livro em casa de uma amiga portuguesa, que também fazia doutorado em Southampton. Não consegui abandoná-lo enquanto não cheguei à última página. Eu o li e reli, sentada num dos bancos dos intermináveis e gigantescos parques que recortam a cidade, nas manhãs gélidas de inverno, aquecendo o corpo ao sol, e a alma pela escrita instigante do poeta. Foi um livro inspirador e revelador, que, com muita relutância devolvi à proprietária, que também o amava, com a absoluta certeza de que o compraria tão logo voltasse ao Brasil. Ledo engano! Por aqui, só com muita sorte e persistência, garimpando em sebos, foi que encontrei, ano passado, o volume O Medo, da Editora portuguesa Assírio & Alvim. Ele reúne os 15 livros com toda a obra do poeta. Al Berto escreve de uma forma muito peculiar. Sua linguagem e sempre inspiradora, vigorosa, intimista, cruel, às vezes. Ele utiliza a linguagem poética discorrida em prosa, como poucos. Transcrevo-lhes alguns pequenos trechos, para que se deliciem com a leitura e, quem ainda não o conhece, que se torne seu fã incondicional, como eu, que o tenho sempre à cabeceira. (Ludmila Saharovsky)

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