Dia da poesia

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Hoje, dia 14 de março, dia da poesia, deixo para vocês essa beleza de versos de Adélia Prado, que amo!

e Cecília Meireles

Amém
Hoje acabou-se-me a palavra,
e nenhuma lágrima vem.
Ai, se a vida se me acabara
também!

A profusão do mundo, imensa,
tem tudo, tudo – e nada tem.
Onde repousar a cabeça?
No além?

Fala-se com os homens, com os santos,
consigo, com Deus. . . E ninguém
entende o que se está contando
e a quem. . .

Mas terra e sol, luas e estrelas
giram de tal maneira bem
que a alma desanima de queixas.
Amém.

e Drummond de Andrade

Drummond

    

    Carlos Drummond de Andrade

    Por muito tempo achei que a ausência é falta.
    E lastimava, ignorante, a falta.
    Hoje não a lastimo.
    Não há falta na ausência.
    A ausência é um estar em mim.
    E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
    que rio e danço e invento exclamações alegres,
    porque a ausência, essa ausência assimilada,
    ninguém a rouba mais de mim.

    (Carlos Drummond de Andrade)

      

      Continho bobo

      (Imagem Max Sauco)

      “É um continho bobo, anão, contente da vida.
      Vai no meu bolso. Não o leio para ninguém.”
      (Carlos Drummond de Andrade em Contos plausíveis)

      Os meus também são assim. Pequeninos, insignificantes, bobinhos,
      mas, eu os escrevo! “Quanta coragem!” vocês dirão…e eu: “Pois é! Nasceram assim…fazer o quê, não é mesmo?” (Ludmila Saharovsky)

      continho número 1: Copacabana
      Criava escorpiões nos bolsos. Assim, conseguia passear tranquilo, nas noites de Copacabana. (para Fabiano Mauro Ribeiro)

      continho 2: Branca de Neve e os sete anões
      Foi só enxergá-los pela primeira vez, e Branca de Neve optou, sem pestanejar, pelo sono profundo! (para Dyrce Araújo)

      continho 3: Anúncio Classificado
      Fauno ao contrário busca sereia nas mesmas condições. (para Carlos Bueno Guedes)

      continho 4: Direitos autorais
      Sua pele, finamente tatuada com imagem de um índio pataxó, permanece hoje, emoldurada, nas paredes do Museu do Folclore. Direitos autorais não se discutem! (para Mario, o Lobo)

      continho 5: Germinal
      Aspirou o pólem com força total. Morreu no verão, a boca repleta de frutos sazonados. (para Ênio Puccini, in memoriam)

      continho 6: Guardião
      O gato de porcelana observa, há meses, o peixinho vermelho, aterrorizado, dentro do aquário, no hall de entrada do apartamento. (para Márcia Muxagata)

      continho 7: Distração
      Ao erguer a batuta, que fez desaparecer a orquestra, percebeu o maestro que havia trocado de bastão com o ilusionista. (para José Roberto Cannizza)

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