Lá e de volta…


Este foi o percurso que fizemos: Saímos de Rio Grande ( parte inferior do mapa) atravessamos a Lagoa dos Patos, de balsa, até São José do Norte, depois seguimos até Mostarda, onde pernoitamos. Pela manhã fomos ao litoral de Mostardas, passando pelas dunas e depois, pela praia chegamos ao Parque Nacional da Lagoa do Peixe, em Tavares. Em seguida, fomos conhecer o Parque de Energia Eólica em Palmares do Sul e seguimos para POA. Fomos à Feira do Brique de Redenção, no domingo e voltamos pela BR 116, do outro lado da Lagoa dos Patos.

    

    Parque Nacional da Lagoa do Peixe em Mostardas RS.


    Já declarei inúmeras vezes o meu amor por Rio Grande do Sul, e por essa hospitaleira Rio Grande, cidade onde atualmente vivo. Localizada entre o Oceano Atlântico e a imensa e única Lagoa dos Patos, é daqui que eu saio para melhor conhecer os arredores. E foi o que fizemos, eu e Liv, neste final de semana. Nosso destino: a cidade de Mostardas. Atravessamos a Lagoa dos Patos de balsa, até São José do Norte, onde pegamos a rodovia 101, e, depois de 163 km de estrada, chegamos ao nosso destino.

    Mostardas é uma pequena cidade ( população aproximada de 15 mil habitantes) margeada de um lado pela Lagoa dos Patos, e de outro, pelas dunas e pelo mar, colonizada por imigrantes açorianos a partir de 1738. Esse nome tão interessante deve-se, segundo historiadores, aos sobreviventes de um navio francês que tinha esse nome e naufragou na região. No entanto, o navio chamava-se Mostardeiro e não Mostardas. Segundo a historiadora Marisa Oliveira Guedes, mustardas eram trincheiras cavadas e cobertas com uma esteira de taquara e junco e que eram camufladas plantando mostardas, pois este vegetal não murcha, para abrigar os soldados nas guerras de Portugal.

    Um dos maiores atrativos da região é o Parque Nacional da Lagoa do Peixe. Dentro da área do parque, na costa, a aproximadamente 20 quilômetros do Balneário de Mostardas, está situado o Farol de Mostardas. Mas, não apenas o Parque Nacional encanta. A cidade toda é muito bonita, em meio a vastas plantações de pinheiros, com boas pousadas a preços módicos, praças, faróis, balneário, dunas, arquitetura açoriana preservada, bem como a fauna e a flora. Para ver-se o por do sol sobre a Lagoa dos Patos, é preciso ter um carro alto com tração nas quatro rodas, senão é impossível chegar à beira da Lagoa. (Nossa pousada, Pouso Alegre, oferecia este e os demais passeios, e Robson, seu proprietário, foi um guia excelente!)

    Entramos por uma estrada de areia fofa cercada de ambos os lados por plantações de arroz que se perdiam de vista, até chegarmos ao Porto do Barquinho, na beira da Lagoa dos Patos, com seus molhes adentrando na água. Antes da construção da BR 101, era pela Lagoa que chegavam os suprimentos e escoava a produção rural de Mostardas. Neste horário de verão, o sol se põem perto das 21 hs. e o espetáculo é de encher os olhos de lágrimas frente a tanta beleza!

      

      Folia de Reis


      “O palhaço, às vezes Marombo, às vezes Bastião, às vezes Marumbo ou Marungo, às vezes Véio e às vezes Fardado, são seres encantados que carregam na matula um modo de inventar e construir diariamente suas vidas, através das folias, e a cada jornada, traçam um mistério na sua própria história. O mistério da significação do palhaço, figura que transita entre o bem e o mal, sagrado e profano, céu e inferno, está presente nas Folias de Reis, uma tradição deixada de geração para geração. O fato é que atrás desta Máscara existe um grande mistério” (Roberval Rodolfo)

      “E quando o Rei Herodes soube do nascimento da Criança que seria o Rei dos Reis, com medo de perder o trono enviou seus soldados para matar o menino Jesus.
      Mas os soldados, quando viram o menino e a luz que o arrodeava, eles se converteram e o adoraram também, e, em vez de matar a criança, elaboraram um plano para distrair o Rei Herodes, enquanto a Família Santa fugia.
      O Rei Herodes então, mandou matar todas as crianças com menos de dois anos.
      Os soldados convertidos cobriram todo o corpo com vestes, o rosto com máscaras e, com cantos e estripulias retardaram as tropas do Rei Herodes, permitindo que o menino Deus fosse levado ao Egito em segurança.
      Vestidos de palhaços, os soldados foram conversar com o Rei Herodes, convencendo ele de que não precisava temer nenhuma profecia, pois ele era o mais poderoso.
      Aí…conversa vai, conversa vem, uma bebidinha aqui, uma comidinha ali, e Herodes achou que tinham se passado três horas, mas, na verdade, tinham passado três dias, tão encantado e entretido ficou com os palhaços, que cantaram e declamaram, para proteger Nosso Senhor Menino.” (baseado em trechos do livro Marombo: A dança de Devoção de Roberval Rodolfo)

      Essa é a interpretação popular dada à história bíblica, que é encenada por todo o Brasil no Dia de Santo Reis, pelas Folias de Reis, que percorrem as casas narrando essa versão própria, entre cânticos, danças e palhaçadas.

      “Os palhaços são pessoas da comunidade marcadas para essa missão, escolhidas para proteger a Folia e a Bandeira da Companhia, como outrora protegeram o Senhor Menino.
      O palhaço ou marungo, como também é conhecido, não é um palhaço qualquer. Palhaço é no circo. O marungo tem patente militar na campanha belicosa entre o bem e o mal.” “Ele deve possuir os mesmos conhecimentos cósmicos que possui o Mestre da companhia, pois o marungo vai na frente da bandeira, encabeça a proteção a ela. No encontro com outra companhia, na estrada, é ele quem primeiro recebe os ataques/versos do oponente. Se não souber responder, perde-se a bandeira.”
      (do livro: “Marombo: A Dança da Devoção” de Roberval Rodolfo)

      Na cultura tradicional brasileira, os festejos de Natal eram comemorados por grupos que visitavam as casas tocando músicas alegres em louvor aos “Santos Reis” e ao nascimento de Cristo. Essas manifestações festivas estendiam-se até a data consagrada aos Reis Magos, dia 6 de janeiro.
      A tradição da Folia de Reis, nasceu na Europa, na Idade Média e ganhou força especialmente no sec. XIX, mantendo-se viva em muitas regiões do país, sobretudo nas pequenas cidades dos estados de São Paulo, Minas Geraes, Bahia, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro e Goiás, dentre outras.
      Apesar de Folia de Reis assumir muitas formas e nomes – Reisado, Terno de Reis, Tiração de Reis , no centro dessa tradição há uma profunda religiosidade, expressa na música, pantomimas, roupas coloridas, visitas a lares onde há um presépio montado e outros elementos que homenageiam o nascimento de Jesus e revivem a viagem e visita dos Três Reis Magos.
      Os integrantes do grupo da folia de reis são: mestre, contramestre (donos de conhecimentos sobre a festa), músicos e tocadores, além dos três reis magos e do palhaço, que dá o ar de animação à festa, fazendo a proteção do menino Jesus contra os soldados de Herodes, que queriam matá-lo.
      A Folia de Reis permite o improviso, recriando assim, de forma constante, o ritual da Fuga da Familia Santa para o Egito. Cada folia tem a sua própria tradição, de acordo com a região onde é encenada.. Os ensinamentos são passados de geração em geração mantendo assim essa rica tradição popular viva até os dias de hoje. (Ludmila Saharovsky)

        

        Frida e Alecsia

        Começo o ano postando a foto de minhas duas bonecas muito queridas: Minha neta Alecsia, que veio passar as festas de final de ano aqui em casa, e da Frida Kahlo, boneca de ganhei de Papai Noel!
        Este início de 2013 está sendo feliz, feliz! Os dias maravilhosos, a casa cheia de filhos e netos e o meu projeto de livro narrando a Memória Oral de Jacareí: Jacareí, Tempo e Memória aprovado pela LIC (Lei de Incentivo à Cultura)
        Para um ano que nem iria começar…este se inicia bem demais!
        Continuem comigo! (Lud)

             

          Encontros Fantásticos III

          O tempo arrastava-se pelos ponteiros do relógio, custando a passar. Após o almoço, finalmente, aconteceria o tão aguardado compromisso que nos levara àquelas paragens. Às 16h15 a senhora discretamente aproximou-se de nós e entendemos que chegara a hora. Saímos da pousada e ela guiou-nos pelas ruazinhas estreitas daquele vilarejo até o local indicado. Ali, um pequeno furgão nos aguardava. Embarcamos, sem as apresentações habituais. Nenhuma pergunta nos fora feita, e nós respeitamos o silêncio solene de nossos guias.
          A viagem foi longa. Cada vez mais e mais nos afastávamos de nossa vila de origem. O ar ia ficando mais frio e rarefeito pela subida. Observávamos a paisagem, enquanto a tarde anoitecia. Logo um céu estrelado fazia parte da longa e estreita estrada que serpenteava em torno das montanhas azuis. Apenas o sibilar do vento fazia-se ouvir, e a cantilena rouca do motor de nosso veículo. O frio era intenso. Num dado momento, o furgão parou, e um senhor idoso, de semblante muito tranquilo, a face recoberta por uma barba bem cuidada e gestos aristocráticos solicitou-nos que vedássemos os olhos com os lenços que nos oferecia. Obedecemos. Alguns metros adiante, o carro mudou o itinerário, fazendo uma curva abrupta à esquerda. Mais alguns minutos se passaram, até que o automóvel parasse e, cuidadosamente guiados, iniciamos uma caminhada a pé, subindo por um caminho tortuoso, apoiando-nos uns nos outros. Num dado momento, pelo eco de nossos passos e pela ausência de vento, nos demos conta de que estávamos num lugar coberto, e não mais ao ar livre. Paramos. Três batidas ecoaram e percebemos que uma porta se abria. Cada um de nós foi recebido por mãos que nos guiaram separadamente. Tínhamos certeza de que os outros estavam lá também, porem não nos comunicávamos.
          Um filete de luz, tênue, começou a passar por nossas vendas, até que percebemos que a claridade imperava. Fomos convidados a sentar e a retirar as vendas. Estávamos numa espécie de átrio amplo, semicircular, feito de pedras. Quando nossos olhos acostumaram-se novamente à claridade, percebi alguns desenhos, como jamais tinha visto, decorando as paredes iluminadas por archotes. Diante de nós estava um grande portal de madeira maciça, frente ao qual perfilavam-se homens e mulheres vestindo longas túnicas negras. Túnicas que nos ofereceram, também, e que colocamos por sobre as roupas, quando retiramos os pesados agasalhos. O ambiente era frio, mas nada igual ao que deixamos do lado de fora, durante a caminhada. O local estava mergulhado num silêncio quase palpável. No ar recendiam aromas de velas acesas e de incenso. Uma suave melodia chegava até nós, de cânticos semelhantes aos gregorianos. Pressentíamos que em breve iríamos participar do aguardado ritual de acolhimento. Nossos olhos foram novamente vedados, e a pesada porta se abriu…(Ludmila Saharovsky)
          Continua na próxima postagem.

            

            Era uma vez uma bicicleta…

            Árvore de bicicleta:

            Existem historias que parecem ficção.
            Essa árvore de bicicleta é uma delas!
            Há muitos anos, eu assisti a um filme sensacional chamado ” A Árvore de tamancos” de Armo J. Mayer.( Prêmio de melhor filme no Festival de Cannes de 78.) Ele retratava as dificuldades vividas por cinco famílias de camponeses do norte da Itália, na Lombardia, no fim do século XIX. Quando um dos pais corta às escondidas um choupo para fazer um par de tamancos para o seu filho em idade escolar, a família é expulsa pelo patrão, acusada de roubo.
            Pois, essa árvore da foto, também possui uma história sui generis. Durante a 1ª Guerra Mundial (1914), uma criança abandonou esta bike numa falha da árvore, em Vashon/USA. e nos últimos 98 anos esta bicicleta se tornou parte da mesma. O incrível é que a bicicleta continua intacta! Não é formidável?
            (Ludmila)