Estava escrito nas estrelas

Estava escrito nas estrelas…
  
Certa noite, há muito, muito tempo atrás, numa terra bem distante, três reis
caminhavam no deserto, seguindo uma estrela.
Na verdade, eles não deviam ser reis. Reis não caminhariam no deserto.
Reis viajariam em carruagens, ou em garbosos cavalos, acompanhados por
um séquito de vassalos. E, também, orientar-se-iam por mapas descritos em
detalhes pelos escribas, em velhos pergaminhos. Nunca por estrelas!
Quem seriam esses personagens então?
Talvez fossem magos!
Mas, o que três magos fariam no meio do deserto? Se eram, de fato, magos,
não precisariam aguardar nenhuma estrela… No mínimo teriam uma varinha
encantada, ou bola de cristal a lhes indicar o caminho, ou mesmo um falcão
com olhar que tudo vê!
Ah! Esses homens, então, deviam ser Sábios. Naquele tempo antigo, apenas
os homens sábios conseguiam ler o céu e conversar com as estrelas. Sim!
Definitivamente, eles eram sábios!
E o céu contou-lhes que, por aqueles dias, nasceria uma criança. Ela seria
muito amada por ricos e pobres, homens e mulheres, jovens e velhos, e seria
conhecida no mundo inteiro como “o rei dos reis.”
E o céu contou-lhes, também, que, perto do dia de seu nascimento, uma
estrela enorme brilharia no céu para lhes indicar a senda.
Assim partiram os Sábios, de seus distantes e exóticos países, em busca da
criança e da estrela, e se encontraram pelo caminho.
Onde você acha que esse rei nascerá? perguntou Gaspar, que vinha da Índia,
e levava de presente para o pequeno, um receptáculo, cheio de precioso
incenso, como prova de sua adoração.
Em algum palácio, no deserto! ponderou Baltazar, que vinha da Arábia,
trazendo num vaso de cristal, a perfumada mirra, simbolizando a imortalidade.
Mas eu já andei tanto por aqui e nunca soube de nenhum palácio nas
redondezas
… retrucou Melchior, que estava vindo desde a longínqua Pérsia,
e trazia de presente para o menino, o mais puro ouro, em homenagem à sua
realeza.
Amigos, o céu nunca nos enganou antes, então, continuemos a viagem até
que a estrela apareça e nos guie ao local secreto.
Confiemos na astronomia!
finalizou Melchior.
E assim os Sábios viajaram muito tempo pelo deserto, montados em seus
dromedários. À noite, acomodavam-se sobre tapetes coloridos, debaixo do
céu estrelado, e comiam tâmaras com mel, e nozes. Quando encontravam
algum oásis, aproveitavam para deitar-se à sombra das palmeiras, desatrelar
os animais, recolher água em seus cantis e refrescar o corpo nas nascentes.
E conversavam…conversavam…cada qual se vangloriando das belezas de
seu país, e fazendo conjecturas sobre os reais pais da criança. Seriam nobres
hebreus? Seriam romanos? Finalmente, numa noite de céu sem nuvens, viram
brilhar a estrela guia. Sua luminosidade era tão intensa, que desenhava no
chão de areia uma estrada de luz.
A estrela indica Belém! exclamaram em uníssono e puseram-se em marcha.
Caminharam a noite inteira, e, já com os primeiros raios da manhã, chegaram a um estábulo.
Olharam para o céu…a estrela desaparecera.
De onde, então, vinha tanta luz?
Aproximaram-se da tosca construção, e lá, deitada numa manjedoura,
transformada em berço, estava a criança. E brilhava…e brilhava tanto, que
os magos ajoelharam-se para adorá-la. E havia vacas, cães, ovelhas e
pastores, e também um pequeno burrinho à sua volta, apaixonados por aquele
bebezinho que emitia tanta luz. E, ao seu lado, uma jovem mulher, em trajes
muito simples: uma veste branca, de linho, encimada por um manto azul, e um
homem de mais idade, apoiado num cajado, amparando-a com o braço livre.
Ninguém pediu explicações. Ninguém emitiu um único som, para não assustar
o recém nascido, que, com sorriso aberto no rosto, dormia feliz em meio às
palhas e aos panos.
Todos entenderam aquele milagre!
(Ludmila Saharovsky)
(conto publicado no Jornal O Vale, de SJCampos, em 18 de dezembro de 2011)

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