Mar de dentro

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Eu era o mar por onde navegavas: cintilação, estrela, nuvem, alga, quimera, feixe de luz, barco de espuma, bruma.
Teu corpo envolto por um sopro azul flutuava no itinerário lento das marés. E um manto de escamas o recobria.
E havia dunas e aves que sonhavam ultrapassar a inatingível linha do horizonte.
E havia o vento que varria as nuvens, que encrespava as ondas, que levantava a areia, que me dilacerava as entranhas.
Em ti dançava o sal das águas e em mim o medo cego dos naufrágios. (Ludmila)

     

    Ave, poesia!

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    Há certos momentos obsessivos em que intuo tua presença que em mim lateja. Estrelas preenchem meus olhos e a lua é foice de luz que me atravessa a alma andarilha. Fecho os olhos para ouvir-te e tua canção é sangue que alimenta minha loucura. Na catedral que ergo em mim para adorar-te, esse fervor coagula minhas crenças e tua rude beleza então se revela. Ave poesia! (Ludmila)

       

      Há dias em que escrever não basta.

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      Há dias em que escrever não basta.
      É quando uma estaca crava-se no peito e emudecem as palavras.
      A mão pende, inativa. Reflui a canção na boca. A tristeza entra pelo papel, áspera, profunda e o exílio me toma em seus braços.
      Fujo de mim. Mas quem foi que cortou o cordão umbilical que me ligava aos sonhos? (Ludmila com ilustração da Internet)

        

        Indizível nome

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        Doce…que seja doce o poema, mas, o coração estremece ante o arbítrio do barro misterioso no qual germinam as sementes das palavras. E é entre soluços que eu o concebo. Doto-o de guelras para que respire e de mandíbulas para que abocanhe as letras. E lhe ordeno: Faça-se poema! E ele se faz numa palpitação que delira ao ver-me. Eu: múltipla, ardente, arrebatada, apaixonada pela minha criação. Então, o poema me transcende e me chama pelo indizível nome. (Ludmila)

            

          Setembro avança

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          Setembro abre sua cauda de flores e aromas e se deita no colo dos dias. E eu, sonhando já com frutos e sementes deixo que ecoe, pleno em mim, seu nome: Primavera.
          Os jasmins desabrocham perfumando corpos, e os manacás, e as tímidas violetas. A alegria chega pelo ar e coroa campos e montanhas.
          O Vale se enche de um amor antigo, enquanto o céu pasta no rio com seu rebanho de nuvens. A natureza alarga seus braços e nos envolve cheia de promessas.Quem dera fôssemos o mel da vida! (Ludmila)

            

            Versos de sal e cinzas.

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            Nem sempre me inspiram as flores e as estrelas que invadem minhas retinas e as povoam de luz e de esperança.
            Também a loucura me inspira. Essa que incendeia a rotina dos dias e esgarça a certeza das coisas.
            Nascem meus versos, então, cheios de sal e cinzas, como agora.
            Digo: Vem! Senta-te à mesa e devoremos o desencanto das horas mortas.
            Vem! Desfruta dessa tristeza que me transforma em pedra, cratera, abismo.
            Vem! Te junta a mim e vamos sangrar as veias da poesia, até que os peixes cintilem na água, como as estrelas no céu. (Ludmila)
            Arte do fotógrafo russo Stanislav Aristov

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