Paisagem na neblina

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Que montanha é essa, que vejo como se sonhasse, com seus picos sólidos materializados na paisagem? Catedral de pedra, recortada no cenário, ela perpetua seu mistério na superfície das noites e dos dias. Ser ancestral, lentamente me absorve e aprisiona em seu ventre e me povoa com sua historia repleta de abismos. Entre nuvens, sem espanto, sem partilha, a montanha me contem. E nela eu caminho, peregrino.
Ali reencontro a mulher. Ela continua só, como sempre. Caminha em minha direção, os pés descalços, o corpo silenciado pela quietude dos sentidos. Mulher outra, mas tão minha conhecida! Observo-a por entre as palavra, num espaço/tempo que remove de mim qualquer angustia, qualquer vazio. Ela é una com as falésias, e eu a ouço e compreendo, permeada pelo tempo e pelo vento. Ah! Quero tocar seus cabelos, como antigamente, quando ela olhava para o horizonte enquanto, imperceptível aos meus sentidos, gestava em si esta paisagem que ora habito. Talvez nesse tempo eu pudesse lhe sorrir, envolver-me em seus desejos, perceber o frágil equilíbrio entre seu passado e o meu futuro, mas não! Perdi-me dentro de mim, corroído pelo medo de perdê-la, num labirinto sem saída que instalou-se em minha alma. E agora, eis-me aqui, murmurando seu nome, olhando para seu vulto que se reflete nesses espelhos de pedra, hipnotizado por sua etérea presença, como sempre. Como sempre. Seu silencio fala muito mais para mim agora, e enquanto a observo, a morte me espreita. Paciente. Ah!… Que espere!
A mulher me toma mansamente pela mão e juntos penetramos naquele espaço pétreo, entalhado na neblina. O tempo remete-me a uma paisagem de outrora, o corpo todo alinhavado pelos desejos reprimidas: de tê-la, de tocá-la, de possuí-la, de atá-la a mim pela eternidade. Vomito minha dor, alimentada por sua ausência, e grito: Porquê? Porquê o destino levou-a para tão longe de mim?
Ela, então, presença diáfana gerada pelos meus anseios, guia-me na paisagem mágica, mapa que traz costurado à sua sombra. Seu rosto desliza pelo tempo, e eu passo a enxergar através de seus olhos, repletos de espanto e de ternura e a sentir suas emoções. Então, essa paisagem refletida, agora, também em meu destino, finalmente se abre para mim. A morte? Ah…a Morte que me enlace!
Ludmila
(trecho do conto que escrevo: Paisagem na Neblina)
A imagem é de Jerry N. Uelsmann, fotógrafo americano, que foi o precursor da fotomontagem no século 20 na América.

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