Os dias ao sabor das palavras

(imagem Internet)

Sento-me à mesa da cozinha e escrevo.
Escrevo em folhas soltas de papel. Escrevo a lápis. A grossa e macia grafite 4B expõe-me a mim mesma. Olho para minha caligrafia e só então me reconheço.
O teclado frio do computador é imoral! Não há rabiscos em sua escrita cirúrgica. Nem a possibilidade de idas e vindas. Apagou? Sinto muito…recomece! Esqueceu? Fazer o que…crie outras alternativas. A idéia, solta, não se recaptura!
A cumplicidade do papel é outra! Nele existe o dom da absorção de lágrimas. Há também o bordado das manchas circulares de copos de café ou chá acendendo memórias de outras serventias da mesa. No papel ocorre o reconhecimento do melhor e do pior da escrita: os erros revelados, as concordâncias esquecidas, os esses trocados.
As palavras materializando-se através dos dedos, nesse bordado tão pessoal da letra, impõem um triângulo amoroso do qual faço parte: eu, a escrita e o sonho vivenciamos enredos sempre possíveis de um final feliz… ou abertos à floração de feridas expostas ao tempo.
Sento-me à mesa da cozinha e escrevo. Enquanto as panelas fervem, enquanto o sol desponta tímido no céu desse início de primavera, enquanto o relógio mecânico marca a passagem das horas, enquanto o tempo, indiferente à minha dor ou deslumbramento, passa…
Sento-me à mesa da cozinha e escrevo e as palavras envolvem-me com sua tessitura de letras, frases, histórias, poemas e fazem com que a vida, demasiadamente curta e rotineira, valha a pena.
Sento-me à mesa da cozinha e escrevo, e a escrita abre portas, desvenda quartos, indica corredores, leva a jardins secretos. Revela aromas, cores, gritos, risos, confidências presas entre as paredes do inconsciente. E me revela.
(Ludmila)

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    5 pensamentos sobre “Os dias ao sabor das palavras

    1. Lu,
      sempre tive dificuldade de escrever à mão, gosto de rabiscar, desenhar, mas a minha letra é tão ruim que às vezes nem eu mesma consigo ler!…kkkk… então o teclado foi a minha libertação, consigo passar meus pensamentos rapidinho para a telinha…rs
      acho lindo cartas, papeis com anotações, blocos… eu tenho os meus bloquinhos cheios de anotações e rabiscos, é um pouco da história da gente.
      beijos querida
      Ju

      • Querida Jussara!
        Nossa geração ficou marcada pelos famosos “querido diário”. Quem não teve o seu?
        Escrever sobre nossas emoções, sobre nossa visão de mundo, nossos anseios e esperanças, certamente contribuiu para nos tornarmos as pessoas que somos.
        Escrever, sempre! Viva os bloquinhos, os cadernos, os rascunhos, as cartas, os blogs, os posts! E vamos que vamos! Abração!

    2. Lud, vc. é simplesmente fantástica com um lápis na mão e um papel qualquer sobre a mesa. Como escreves bem, mulher ! A cada texto seu, mais me aflora o encantamento. Tento ser um poetinha meio sem jeito pra rimar, tento me olhar no seu espelho e logo me aflora a inevitável frase: “…espelho, espelho meu…” . A propósito… Lud. neste momento, agora, às 21h53 min. do dia 09/09/2011, saia na janela e olhe pro céu. Veja que Lua ! Inspiração de tantos versos seus, meus e tantos, tantos…
      Grande beijo, minha poetiza !

    3. Bom Dia minha Linda, também gosto de escrever pelas madrugadas da vida,é uma hora em toda a casa silencia, que meu coração coloca sentimentos , situações á serem trabalhadas,e voce não tem hora especial, tem grande facilidade para expressar independente de atividades paralelas, é um Dom Divino. Beijos no seu coração.

    4. Dona lud cada texto que leio seu me inspira delicadeza,suavidade e ternura. Cada um tem o dom de me fazer voar nos pensamentos e imaginar detalhes de um lugar que nunca conheci na vida real mas obrigada por me fazer tão bem e espero navegar neste mundo de letras e palavras muitas e muitas vezes com vc. Bjs

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