Navegar é preciso, viver…….

Leio na coluna do Veríssimo, que o ex-ministro inglês Tony Blair lançou um livro cujo título é “They Lied, thousands died” que, numa livre tradução seria: “Eles mentiram, milhares morreram”, sobre a guerra do Iraque. As mentiras foram as de Bush e dos neo-conservadores que usaram a ameça fictícia das armas químicas do Saddam Hussein, que nunca foram encontradas, para convencer outros países a se tornarem seus aliados na luta contra o terror. Explicar aos que partiram, e às suas famílias, que eles morreram por conta de uma mentira, é outra história!
Eu estava na Inglaterra nessa época: 15 de fevereiro de 2003. Meu filho fazia seu doutorado em Southampton e nós participamos da memorável marcha de mais de hum milhão de ingleses contra a Guerra do Iraque. Foi a maior manifestação popular condenando uma resolução governamental já vista na Europa: Em Barcelona marcharam pela paz um milhão e meio de pessoas, em Roma, três milhões e mais outro tanto em seissentas cidades espalhadas pelo mundo. Preparamos nossos cartazes, viemos de ônibus até Londres, depois de metrô até a estação Westminster, e de lá confluímos a um mar de gente: pais com filhos no colo, mães com carrinhos de bebê, crianças com rostos pintados, estudantes, trabalhadores, idosos, enfim…uma população dizendo ao seu governo: NÃO! Não queremos nossos jovens nesta guerra!
O resultado? Todos sabemos os resultados: Quase 5.000 soldados americanos e mais de 100 mil iraquianos mortos. Isso sem computar os corpos mutilados e as mentes destruídas de tantos jovens que sobreviveram, de ambos os lados. Uma tragédia sem limites!
Escrevo isto, apenas para corroborar meu sentimento de descrença na pretensa força da opinião pública que sempre é invocada! O povo sempre foi e será massa de manobra, manipulada ao bel prazer pelo poder e pela imprensa conivente. Hoje e sempre os governantes fazem e fizeram o que eles decidem que está certo, e danem-se os milhões que se opõem às suas manobras políticas, imorais e inescrupulosas. Sempre! Infelizmente, política hoje, é a encarnação, é o exercício do pior sentimento que existe no ser humano: a cobiça pelo poder e pelo dinheiro.
Cheguei num ponto em que todas essas notícias terríveis que leio abrindo os jornais, já não me causam nem indignação e nem revolta, que eu senti nos anos de minha juventude. A maturidade me fez buscar dentro de mim um outro sentimento para exprimir o que me vai na alma, e só encontrei cansaço e desesperança…Mas, “navegar é preciso, viver não é preciso” então, navego na arte e na filosofia, que vão me mantendo viva. A duras penas!
(Ludmila Saharovsky)

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    3 pensamentos sobre “Navegar é preciso, viver…….

    1. Na guerra do Iraque o objetivo era tão somente o PETRÓLEO. Após arrasar o "inimigo", veio a era da reconstrução, que foi loteada entre os amigos do Bush… e o Tony Blair agora que Bush saiu e que ele próprio não é mais ministro, toma a liberdade hipócrita de crucificar seu antigo aliado… ora vejam só…

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