Leio, logo existo!


(Biblioteca do Mosteiro Strahov, Praga)
Li excelentes obras ano passado: “A sombra do vento” “A menina que roubava livros”, “As memórias do livro”, “Os homens que não amavam as mulheres”, “O jardineiro que tinha fé.” Adoro ficar horas nas livrarias vendo resenhas e anotando em minha agenda as que mais me impressionam. Aliás, estou me condicionando a sair das lojas apenas com os volumes que darei conta de ler. Ler como se deve: degustando palavras e enredos; vivenciando experiências e emoções.
Gostaria de comentar aqui, com vocês, duas histórias que me encantaram: “A sombra do vento” do espanhol Carlos Ruiz Zafón e “As memórias do livro” de Geraldine Brooks.
“A sombra do vento” é o relato da vida de um garoto, Daniel Sempere, que, na noite de seu décimo primeiro aniversário, acorda tomado por uma infinita tristeza por não conseguir lembrar-se do rosto de sua mãe já morta. Seu pai, num verdadeiro rito de iniciação, o introduz no Cemitério dos Livros Esquecidos, uma biblioteca secreta onde se depositam obras abandonadas pelo mundo, à espera de alguém que as descubra. E então o livro “A sombra do vento” cai em suas mãos e a incrível história se inicia.
Eu sempre me fascinei com descrições dessas bibliotecas labirínticas, como a da obra de Humberto Eco, “O Nome da Rosa”, nas quais faço minhas melhores viagens!Onde me coloco sempre como protagonista desvendando segredos, sentindo o cheiro que permeia os corredores, visualizando grossos volumes escurecidos pelo tempo, conhecendo tantas histórias fantásticas e pensando no dom maravilhoso que esses escritores receberam, de poder tornar seus personagens tão reais e tão presentes em nosso cotidiano. E, será que não são? Mas, voltando ao assunto, eu também percorri com Daniel aquele inusitado cemitério, pensando em como Zafón foi feliz na idéia que formulou. Realmente, um livro que não é lido, que é esquecido, abandonado, torna-se igual a um corpo sem vida que aguarda por um leitor que o ressuscite, que lhe resgate a alma através da leitura, permitindo que os personagens saiam das páginas e habitem sua mente. Em nós eles respiram, vibram, pensam, agem, dialogam, conspiram, sem que possamos interferir em suas trajetórias que estão, como nossas vidas reais, seguindo seus próprios destinos.
Tenho uma grande amiga, Tereza Campos, envolvida há quase um ano com a história que escreve: “O Rio e o mar”. Ela está em constante batalha, tentando traçar um itinerário que seus personagens recusam-se em seguir. É tão interessante como, a cada dia, eles adquirem vida própria e lhe impõem seus próprios caminhos…
Enquanto Zafón coloca seus livros nesse Cemitério dos esquecidos, Hanna Heach, protagonista da história de Brooks, resgata as memórias do único exemplar de um manuscrito judeu medieval, desaparecido e salvo da destruição em 1992 na capital da Bósnia. Pistas como uma mancha de sangue, alguns cristais de sal, um fio de cabelo e asas de inseto, vão nos revelando a história de sua criação e de seu emocionante percurso até o porto seguro de um museu. Uma história de amor e respeito por livros.
Se vocês não tiveram ainda a oportunidade de mergulhar nessas obras, não percam tempo! Vale cada minuto de leitura.
(Ludmila Saharovsky)

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