Crítica "A Pedra e o Lago"




Fui ao espetáculo de estréia de A Pedra e o Lago escrito por
Ludmila Saharovsky, com interpretação textual de Marilda
Carvalho e participação da bailarina Cristiane Azevedo.
O núcleo ideativo desse monólogo é o sentimento pela
perda de um amor. A pulsão da memória descrita em registros
emocionais torna-se patente na voz e expressões de Marilda.
O processo gradativo de ausência leva o expectador ao
âmago de uma dor imensa. Tanto que eu estava na última
fileira de cadeiras do teatro lotado e, pude escutar até mesmo
a respiração da atriz, tamanho silêncio comungado com a dor
latente no texto, interpretado com paixão.
A dança conspira com as palavras. Há uma sinergia entre
dançarina e atriz, tudo flui de maneira que o expectador se
transporta para o cenário. Ao abraçar um paletó pendurado em um
cabide, o vazio penetra perpetuando a morte. A integração do
amor é invadida e fragmentada pela perda.
O fluxo poético traz a sinestesia da solidão. Deitar, gemer,
olhar, sorrir, calar!… tudo conduz à nova perspectiva da vida:
viver sem o amor. Uma realidade jamais ansiada, apenas imposta
pelo destino. Como uma cíclica Perséfone, morrer significa – vida
e, viver significa – morte. Continuar a viver é esquecer, é matar a
memória, relembrar é morrer.
A mulher transpõe todas as etapas através do tempo e do
espaço, diante de um fundo lago de água calma, como um espelho
borgeano, como se fosse uma pedra à margem. Uma pedra que, a
cada instante, cresce com os fragmentos das lembranças e, com
isso, procura renovação e … mergulha-se no lago.
O alto nível criador de Ludmila Saharovsky produz uma
identificação mítica ao expectador, numa catarse de primitivos
sentimentos, cada um expele suas verdades, expurga seus traumas
e, no final, aceita-se como é.
É um registro de como tornar-se oblata das palavras.
Rita Elisa Seda
jornalista,escritora e fotógrafa

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    7 pensamentos sobre “Crítica "A Pedra e o Lago"

    1. Eu tenho uma escritora e uma professora em casa que escreve muito bem e que escreveu uma peça chamada A Pedra e o Lago. Ela também escreveu muitos livros para os netos.
      Eu amo muito a minha vovó!
      ALECSIA SAHAROVSKY MUXAGATA

    2. que delícia ter uma vovó que escreve livros e mais delícia ainda a netinha deixar um recadinho tão lindo assim!
      linda vovó querida!

    3. This my last monologue was well received by critics, which makes me very happy! He describes the pain of a lost love. I already started working on the next, which deals with human solitude. He will be called "Origami." Thank you for your email. Bye!

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